Pernambuco de outro jeito: Ecoturismo e Trekking na Travessia dos 3 cumes em Brejo da Madre de Deus
De maneira geral, o estado de Pernambuco tem fama nacional por suas belas praias, música, festas populares, São João e o movimentado carnaval. No entanto, um cantinho do agreste de Pernambuco possui um turismo pouco associado ao estado: Ecoturismo na montanha!
Exatamente, ecoturismo na montanha em Pernambuco!
Tudo bem, não estamos falando de grandes altitudes. O Pico da Boa Vista, cume mais alto do estado com 1.195 m está localizado na Serra do Ponto em Brejo da Madre de Deus, apesar de ser um local belíssimo sua altitude não se compara com as montanhas mais famosas do mundo como o Pico da Neblina (Serra do Imeri, Amazonas, 2.995 m), Aconcágua (Andes, Mendoza, Argentina, 6.691 m), Everest (Himalaia, Nepal 8.848 m) e Marmolada (Dolamites, Trento, divisa entre Áustria e Itália, 3.343 m).
Tão pouco o turismo empreendido em Brejo da Madre de Deus é baseado nos preceitos do ecoturismo. O município não possui uma planta ecoturística (a grande maioria dos serviços não se enquadram no ramo) e neste sentido a gestão local deixa muito a desejar.
Mesmo assim considero que nossa experiência foi ecoturística, uma vez que toda cadeia de serviços que utilizamos foi local (hospedagem, guia, mercearia e restaurante) e nosso trekking foi sustentável (grupo pequeno, exclusivo, preocupado em não deixar nenhuma sujeira e só trazer fotos e boas lembranças). Segundo a TIES (The International Ecotourism Society), ecoturismo é: “uma viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local”.
Onde fica Brejo da Madre de Deus?
Brejo da Madre de Deus está localizado no Planalto da Borborema, uma região de montanhas com altitude entre 600 m e 1100 m. A região possui vegetação de caatinga nas partes baixas e de mata atlântica, com brejos de altitude nas partes altas das montanhas.
Sua montanhas de formação rochosa mescladas com áreas verdes contrastados com o céu azul e sol brilhante compõem um interessante e vibrante panorama. E quando chega ao topo das montanhas somos presenteados por perspectivas visuais incríveis.
Experiência: Ecoturismo, trekking e montanha na travessia dos 3 cumes em Brejo da Madre Deus
Em um final de semana destes de maio, partimos (Eu e Manuela) para Brejo da Madre de Deus vivenciar a travessia dos 3 cumes (Serra da Colônia, Serra da Prata e Serra do Ponto) em duas noites e dois dias (noite da sexta ao fim da tarde do domingo) com a companhia do guia local Heraldo Gouveia.
Na sexta a noite após as 19:00 partimos de carro de Recife rumo a Brejo da Madre de Deus. Pegamos a BR-232 sentido Caruaru. Chegando em Caruaru, não entramos na cidade, continuamos na BR-232 e viramos à direita na BR-104, seguindo as placas para Fazenda Nova. Cerca de 30 km depois, pegamos o retorno a esquerda e em seguida entramos à direita na PE-145. No local você verá uma placa no sentido da direita indicando a cidade de Brejo (existe também uma estátua grande de Lampião). A PE-145 é uma estrada de mão dupla com bastante buraco, siga por mais 40 km até Brejo da Madre de Deus.
De ônibus seria: Pegar ônibus “Caruaruense” ou “Jotude” na rodoviária do TIP do Recife. O ônibus custa uns 25 reais, sai de hora em hora e com duas horas de viagem você está em Caruaru. Em Caruaru desça no centro na parada do ônibus próximo à livraria Estudantil ou da catedral. Você deve andar duas quadras pra chegar no “Grande Hotel”, se informe como. O ponto de “Toyotas” (carro que faz a rota) para Brejo da Madre de Deus está próximo do “Grande Hotel”, uma vez chegando lá, entre em uma rua que estará em uma esquina à esquerda, entre nessa rua que possui um canteiro no meio e siga em frente até achar as Toyotas que ficam estacionadas nesse canteiro central, elas que fazem o serviço de transporte para as cidades do interior, inclusive Brejo. A última sai as 16:00, o valor é de R$ 10 e a viagem de Caruaru até Brejo leva cerca de 2h.
Chegamos em Brejo umas 23:00 e fomos dormir na Pousada do Brejo que fica em um posto de gasolina na saída da cidade sentido Jataúba. É uma hospedagem simples, limpa, com colchão e banho razoável e café da manhã honesto. Deu pra descansar bem da viagem e acordar disposto pra um dia de trilha pelas montanhas de Brejo.
Antes das 08:00 da manhã nosso guia estava lá e as 8:00 partimos para a aventura. Fomos andando por dentro da cidade até a feira livre da cidade que ocorre aos sábados. Uma típica feirinha de interior do nordeste, bancas e mais bancas vendendo de tudo (verduras, frutas, ervas, temperos, carnes, ovos, peixes, brinquedos, utensílios, roupas). Cruzamos a feira e seguimos para pegar uma Toyota para o inicio da trilha.
Descemos da Toyota no meio da estrada ao pé da serra da Colônia e seguimos em direção ao cume. Eram mais ou menos 09:15 da manhã, estava quente, fazia um lindo dia de sol, a vegetação estava verde (verdinha, verdinha), o cenário estava incrível.
Heraldo é um guia experiente, é local de Brejo e trabalha com turismo de aventura há décadas. É a referência da região quando o assunto são as montanhas de Brejo. Deste modo ele sabia a hora e o lugar para fazer paradas estratégicas.
Nossa primeira parada, umas 10 da manhã, foi ao meio da serra em uma pequena sombra para beber água, respirar e curtir o visual que já se formava.
Umas 11:30 chegamos ao cume da serra da Colônia, o primeiro dos 3 cumes. Pausa para água, fruta, contemplação e foto de registro da equipe: eu (Rodrigo Adrião, de vermelho), Manuela Padilha e Heraldo Gouveia (guia).
Instigados e felizes seguimos caminho até a próxima parada que foi a pedra do Crânio. Já estava próximo das 12:00 e desta vez a parada para sanduíche de queijo coalho com mel para energizar. Tiramos algumas fotos e nos dirigimos a serra da Prata.
Até então caminho é tecnicamente fácil. No entanto fazia bastante calor e as subidas sempre exigem mais um pouco de energia. Por volta das 13:00 chegamos a serra da Prata sem maiores problemas. De lá avistávamos a serra do Ponto nosso local de pernoite, ainda faltava um chão.
Comemos uma cocada, uma paçoca, bebemos uma água e seguimos em frente. Heraldo nos alertou para esta parte, foram quase 4 quilômetros de estrada de barro, com muito sol, calor e poeira.
Aos poucos a aridez da estrada (semiárido- vegetação de caatinga) mais uma vez vai ganhando corpo verde e árvores mais desenvolvidas estamos subindo pro brejo de altitude (assim como foi na primeira subida da serra da Colônia).
Vivenciamos uma “fronteira” de vegetação em um curto espaço de tempo (brejo de
altitude – semiárido – brejo de altitude), muito interessante viver essa mudança e perceber seus detalhes. Já eram quase 15:00 e resolvemos fazer uma pausa para hidratação e comida! Mortos de fome, no menu: sanduíche de ovo, abacate, tomate e queijo (com repetex pra alegria da geral).
Comemos e seguimos firmes rumo ao cume… Pausa em mirador próximo ao cume para descanso, contemplação, água e fotos.
E lá vamos nós mais uma vez…anda um pouquinho, descansa um pouquinho, pega mochila e mais tantos km… Porém não desta vez, o acampamento onde passaremos a noite já não estava tão longe.
Chegamos no acampamento, que fica a 1 km do cume, recebidos pelo fim de tarde e por essa incrível rocha mãe que por ela caminhamos.
Chegamos entre 16:00 e 16:30, foi uma jornada de 8h de caminhada, segundo nosso Guia por volta de 12 km de percurso. Fizemos tudo bem calmo, sem pressa ou stress, à passos médios, firmes e desfrutando de cada detalhe e singularidade. Chegamos cansados e bem felizes.
Montamos acampamento e nos “organizamos para desorganizar”: a hora do tão esperado jantar quentinho e abastecidos de um bom vinho.
Depois do jantar fomos para a rocha mãe, deitamos e curtimos aquele céu extra estrelado junto a sinfonia silenciosa da montanha. Dormimos cedo pra descansar bem e despertar dispostos. Foi uma noite bem agradável, o clima contribuiu e não choveu.
Despertamos na madrugada antes dos primeiros raios de sol para receber esse presente…
Energizamos silenciosamente, aproveitamos ao máximo aquele momento tão poderoso. Por volta das 6:30 fomos “desorganizar para reorganizar”, desmontamos acampamento, organizamos as mochilas e fizemos o café da manhã dos campeões: cuscuz com banana e queijo, e café preto. Comemos tranquilos, fechamos tudo e por volta das 9:00 partimos rumo ao tão esperado terceiro cume – Pico da Boa Vista (1.195 m), pico mais alto do estado de Pernambuco.
No cume encontra-se a pirâmide de pedra construída pelo Arquiteto francês Louis Léger Vauthier, não se sabe ao certo mas estima-se que foi construída por volta de 1830. Cada ponta das 4 pontas que possui a pirâmide indica um dos 4 principais pontos cardeais (N, S, L, O).
Chegamos!
Desfrutamos da vista, da energia do lugar, agradecemos e seguimos o caminho.
Lá mais na frente, mais visuais… Incríveis visuais.
Deste ponto em diante foi descida, sair do brejo de altitude e regressar a caatinga nordestina.
Chegamos na estrada e fizemos uma pausa para lanchar sanduíche de sardinha, água e doce. Paramos em uma mercearia (bar) e compramos água gelada (ô alegria!) e seguimos a trilha.
Já era por volta das 13:00 quando pegamos uma estrada local e nos aproximávamos de Brejo.
Mais ou menos 14:30 da tarde chegamos na pousada, onde tínhamos passado a primeira noite, para pegar o carro e partir para um almoço caseiro na localidade. Nosso Guia nos levou até o restaurante e lá desfrutamos de uma “comida caseira” bem nordestina (ô benção!).
Depois do almoço nos despedimos do Guia Heraldo, uma figura do bem, super profissional, conhecedor nato das montanhas do Brejo. Na verdade dissemos para Heraldo um até logo porque com certeza em breve, em Brejo, voltaremos.
Voltamos com um sentimento de alegria e leveza, coisas que só o esforço físico e a natureza lhe proporcionam. Foi um final de semana maravilho, bem aqui do lado de Recife. Um fim de semana diferente pra quem é de praia, um Pernambuco de outro jeito: Ecoturismo, trekking e montanha na travessia dos 3 cumes em Brejo da Madre Deus.
Texto e fotos de Rodrigo Adrião.
Rodrigo é biólogo, mestre em ecologia e gestão ambiental e especialista em ecoturismo. Atualmente CEO e gestor da Mar de Selva ecosocial tour. Recifense, no Brasil já morou em Serra Talhada (semiárido brasileiro) e Caruaru em Pernambuco, e em Salvador na Bahia. Viveu por dois anos em Tarapoto (selva alta amazônica) Peru, e por um ano em Lisboa, Portugal. Conhece grande parte do litoral brasileiro de norte a sul, alguns países da America Latina e Europa.
Redator
Rodrigo Adrião "Sorriso"
Rodrigo é biólogo, mestre em ecologia e gestão ambiental e especialista em ecoturismo. Atualmente CEO e gestor da Mar de Selva ecosocial tour. Recifense, no Brasil já morou em Serra Talhada (semiárido brasileiro) e Caruaru em Pernambuco, e em Salvador na Bahia. Viveu por dois anos em Tarapoto (selva alta amazônica) Peru, e por um ano em Lisboa, Portugal. Conhece grande parte do litoral brasileiro de norte a sul, alguns países da America Latina e Europa.
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