O Caminho de Santiago de Compostela na verdade são vários caminhos para Santiago de Compostela

É importante saber que quando se fala do Caminho de Santiago, não há apenas um caminho, mas vários na verdade. Esses vários caminhos para Santiago foram formados por toda a Europa e incluem rotas desde o Leste Europeu. Estas rotas são também chamadas de tramos.

Santiago de Compostela e a chuva de estrelas

Cruzando a Península Ibérica até chegarem na Catedral de Santiago de Compostela, esses tramos foram percorridos por muitos peregrinos desde o século IX, que tinham como objetivo chegar ao local onde hoje está a cidade de Santiago de Compostela. No século IX, o evento da descoberta do túmulo atribuído ao Apóstolo Tiago Maior ocorreu no local denominado Campus Stellae em Latin, Campo de Estrelas em Português. O termo a origem do nome Compostela.

Este local levou esta denominação em função das chuvas de estrelas que ali eram avistadas à noite, pouco antes da descoberta do túmulo do Apóstolo Tiago. Reza a lenda desde então que estas chuvas de estrelas indicavam o caminho até o local do túmulo.

Os caminhos para Santiago de Compostela e suas histórias

Bem antes do século IX, alguns desses caminhos já eram percorridos por humanos. Isto se deu desde o Período Neolítico, ou seja, desde a Pré-História! Eram diversos os motivos que levaram a estes humanos a percorrerem estes caminhos antes da descoberta do túmulo do Apóstolo Thiago. Desde rituais de adoração a Deuses até a prática de rituais de procriação. Com o propósito de preservar a existência desses grupos no futuro, os novos membros eram concebidos através desses rituais.

Nessa época anterior ao século IX, o local de chegada desses deslocamentos era o litoral da Galícia, como Muxía ou principalmente a localidade de Finisterre (ou Fisterra, em Galego), que quer dizer o Fim da Terra.

Passados alguns milênios, chegamos à conquista Romana e sua dominação da Península Ibérica. Com o intuito de facilitar o trabalho, os Romanos se aproveitaram desses antigos caminhos para fazerem as famosas Calçadas Romanas. Eram tramos usados para deslocamentos Celta na região, ou ainda antes, por estes grupos nômades desde o Neolítico.

Quando um peregrino passa pelos atuais caminhos para Santiago de Compostela, está percorrendo trilhas que muitos povos, desde a pré-história, também trilharam. Pode-se dizer que foi instalado um legado tanto de intervenções na natureza da região como também de uma egrégora energética e psíquica acumulada por alguns milênios.

Agora, voltando ao Caminho de Santiago, e falando novamente da janela de tempo desde o século IX até os dias de hoje, são diversos os caminhos oficiais que, de diversos pontos na Europa, levam a Santiago de Compostela. A seguir apresentamos uma breve descrição dos principais deles.

O Caminho de Santiago de Compostela e seus vários caminhos

Os caminhos para Santiago de Compostela contam com algumas organizações oficiais. Eles identificam 13 opções possíveis. Suas derivações e interligações, para se chegar a Santiago de Compostela são:

No website da Gronze são ilustradas as diversas rotas que se dirigem para Santiago de Compostela por toda a Península Ibérica.

O Caminho Francês – El Camino

O Caminho Francês é o mais famoso e popular dos Caminhos de Santiago. Cruza a Espanha de leste a oeste mais ao norte, pelas altas latitudes do território espanhol. Com início na fronteira com a França, nos Pirineus, tem cerca de 850 km até a Praza do Obradoiro, onde está a Catedral de Santiago de Compostela. Pode ser percorrido entre 30 e 35 dias a pé.

Historicamente, o traçado do Caminho Francês para Santiago de Compostela se deu por ser uma rota considerada segura para os peregrinos. Os peregrinos cristãos eram sujeitos a muitos ataques de Mouros, e até mesmo ladrões. Os reinos católicos convocaram os Cavaleiros Templários e ordens derivadas, para estabelecer uma rota segura para os peregrinos, seja via Saint Jean Pied Port ou via o Caminho Aragonês. A partir do início do século XII, e ao longo de muitas décadas, foi sendo estabelecida uma infra-estrutura quase inacreditável para a época.

Os-caminhos-para-Santiago-de-Compostela

O Caminho Primitivo

É o tramo que se inicia em Oviedo, nas Astúrias. Se dirige a Santiago de Compostela cruzando a região das Astúrias até entrar na região da Galícia, após cruzar a cordilheira Cantábrica. É uma rota penosa e de elevado nível de dificuldade, tendo como contrapartida as belíssimas e indescritíveis paisagens, com cenários de tirar o fôlego.

Deve sua origem à peregrinação do rei Alfonso II, do reino de Astúrias, ainda no século IX. Este acontecimento histórico é tido pelos historiadores como a primeira peregrinação de um monarca católico até o túmulo do apóstolo Tiago Maior. Ou seja, foi a rota definida por um soberano de um dos principais reinos da Europa.

Por ter sido registrada como a primeira peregrinação de um Rei, por questões da fé católica, ao túmulo do Apóstolo Tiago, esta rota levou o nome de Caminho Primitivo.

O Caminho do Norte

Dentre os caminhos para Santiago de Compostela, este foi estabelecido bem mais ao norte em relação ao Caminho Francês, próximo ao litoral norte da Espanha. É denominado de Caminho do Norte, mas a partir da região de A Coruña é também conhecido como Caminho Inglês.

Na costa do Mar Cantábrico, ao norte do território espanhol, aportavam embarcações vindas das Ilhas Britânicas ou da costa atlântica da França. De lá os peregrinos da cristandade seguiam a pé para Santiago de Compostela, cruzando por sobre a Cordilheira Cantábrica.

O Caminho do Norte atravessa quatro comunidades autônomas espanholas, o País Basco, a Cantábria, as Astúrias e a Galícia. A partir da Galícia, se conecta ao Caminho Francês em alguns pontos.

O Caminho da Prata ou Via de la Plata

O Caminho da Prata é também conhecido como Via de la Plata. É um antigo caminho comercial e de movimentação de minérios, desde a ocupação Romana da Península Ibérica. Tem origem no sul da Espanha, partindo de Sevilla. Atravessa o oeste da Espanha sempre paralelo e próximo à fronteira com Portugal.

A rota difere em alguns pontos. A principal segue até Astorga e se une ali ao Caminho Francês, já quase na fronteira com a Galícia. A derivação vira a 90 graus a oeste e segue por Puebla de Sanabria. A partir daí o tramo é conhecido como Caminho Sanabrês. A partir daqui há uma sobreposição com o caminho conhecido como Mozárabe. Esta derivação continua paralela e bem próxima ao território de Portugal, contornando toda a sua fronteira norte com a Galícia.

Da Via do Estanho à Via da Prata – Curiosidades dos caminhos para Santiago de Compostela

O nome original da Via da Prata era Via do Estanho. Por ela circulava boa parte deste mineral, obtido na Península Ibérica pelo Império Romano. Durante o período da ocupação, a Via do Estanho manteve-se como eixo fundamental de comércio, comunicações e logística, tanto durante a conquista como na época imperial. Por mais incrível que possa parecer, esta rota nunca foi de comércio de prata. A denominação Via da Prata é uma consequência da evolução do nome original, causada por uma confusão fonética-idiomática.

No período da ocupação muçulmana por toda a área mediterrânea da Península Ibérica, este tramo era chamado de via Alblata, que tem origem na expressão “delapidata” do latim tardio. O termo “delapidata”, quando pronunciado em idioma hispânico durante a Idade Média, soava como “de la plata”. Por consequência, passou a ser chamada de la Vía de la Plata, em Espanhol.

À medida que a reconquista cristã avançava sobre o território dominado pelos Mouros, a Via da Prata serviu também como caminho de peregrinação dos Cristãos em direção a Santiago de Compostela. As lendas dizem inclusive que não eram apenas os Cristãos que faziam a peregrinação até Santiago de Compostela, o que se mantém até hoje.

A Via de la Plata tem frequentemente em seu traçado vestígios romanos. Na região de Mérida, este aspecto é notório. Ainda hoje diversos atrativos podem ser visitados. São belíssimas obras de engenharia romana. Desde a Catedral de Sevilla até a Catedral de Santiago, são quase mil quilômetros que podem ser percorridos entre 40 e 45 dias a pé. Atualmente muitos peregrinos preferem realizar o percurso de bicicleta.

O Caminho Português de Santiago de Compostela

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Existem também diversos caminhos que derivam do Caminho Português. A maioria percorre o território de Portugal de Sul a Norte, e alguns iniciam já no norte de Portugal, entrando pela Galícia a partir do rio Minho. O principal deles é o Caminho Central Português, a rota mais utilizada por peregrinos.

O Caminho Central Português oficialmente tem seu trajeto iniciando em Lisboa, mas o trecho mais frequentado por peregrinos é o que começa na cidade do Porto. Historicamente, os caminhos para Santiago de Compostela vindos de Portugal eram rotas usadas por comerciantes provenientes do eixo Lisboa-Coimbra-Porto. Posteriormente passaram a ser também rotas para a peregrinação de cristãos.

O Caminho Central Português entre Porto e Santiago, é exatamente sobreposto à rota de peregrinação à Fátima. Quem percorre do Porto a Santiago de Compostela, encontrará com vários peregrinos que se dirigem a Fátima, andando no sentido contrário. Por isso, nesse tramo o peregrino encontrará também sinalizações em azul, apontando no sentido contrário.

O Caminho Português da Catedral do Porto até a Catedral de Santiago de Compostela tem cerca de 250 km, que podem ser percorridos em torno de 12 dias.

O Caminho Sanabrês de Santiago de Compostela

Os caminhos existentes pelo interior de Portugal se interligavam aos caminhos espanhóis através do Caminho Sanabrês. Seu nome é originado em função da localidade de Puebla de Sanabria. O Caminho Sanabrês é também chamado de Caminho Mozárabe e de Caminho Galego do Sul.

Caminho da Prata de Portugal

Algumas dessas rotas do interior de Portugal são também designadas Caminho da Prata de Portugal. Isso porque se conectam no Caminho da Prata para Santiago de Compostela. Para muitos autores, o tramo entre Ourense e Santiago faz também parte do Caminho Sanabrês. Por estas rotas no interior de Portugal, os peregrinos adentravam a Galícia por Verín, situada a 15 km ao norte da cidade portuguesa de Chaves.

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Redator
Paulo Fernandez

Paulo Fernandez

Consultor Santiago de Compostela

Paulo Fernandez é consultor da Nattrip para a peregrinação à Santiago de Compostela, tendo concluído o Caminho Francês desde Saint-Jean-Pied-de-Port no ano Xacobeo de 1999.

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